quarta-feira, 26 de agosto de 2009


Pergunta - Elementos arquitetônicos de um lugar/cidade são hoje o motivo de muitas viagens a lazer (gente interessada em conhecer a obra de um determinado arquiteto). Como e por que, de repente, a arquitetura moderna/contemporânea passou a fazer parte da indústria do turismo, motivando a criação de roteiros especializados?

Cristina Piazza - Tudo começou com o Louvre e a sua pirâmide de cristal, que surgiu como solução para um problema que o antigo museu tinha que era o acesso. Antes da reformulação, o hall de entrada do museu do Louvre era acanhado, não comportando a grande quantidade de visitantes, que formavam grandes filas nas imediações até conseguirem acessar as salas do museu. Quando o arquiteto I.M.Pei, convidado pelo presidente francês Mitterrant, sugeriu que fosse erguida no pátio central frontal do Museu do Louvre a pirâmide e, desta forma, dar uma nova sequência de visitação ao museu, contribuindo como abrigo do sol e da chuva para os visitantes, suscitou imediatamente uma nova discussão sobre os elementos arquitetônicos, no todo ou em partes, na dinâmica das cidades. Entretanto, outros arquitetos já haviam criado formas monumentais e sensacionais para abrigar coleções de arte. Como exemplo temos o Museu Guggenheim em Nova Iorque, obra de Frank Lloyd Wright, cuja forma sugere uma laranja descascada. A diferença entre o Guggenheim de Nova Iorque e a Pirâmide do Louvre em Paris é que enquanto o primeiro é uma edificação isolada, ou seja, foi projetada e construída em um terreno, sem a necessidade de dialogar com nenhuma outra construção já existente. Diferentemente do Louvre, que é uma construção de muitos anos de existência (sua construção iniciou em 1190 por Filipe II), responsável por afirmar, ao mundo, a importância do desenvolvimento e da cultura francesa. O fato de contrapor uma edificação histórica, de grande importância para o mundo, com uma de concepção contemporânea, com emprego de alta tecnologia construtiva, foi determinante para transformar este novo ícone, acoplado ao antigo ícone, um centro de perigrinação. Pois, agora não bastava afirmar seu consentimento ou descontentamento por tal fato - a construção da pirâmide -, mas sim era necessário verificar de perto este constraste. Nascia, aí, o turismo arquitetônico, agora não mais voltado àquela arquitetura histórica, de reis e rainhas, mas sim a arquitetura concebida para o deleite e uso/apropriação do povo, de caráter contemporâneo. A partir deste momento, vislumbrando um grande desenvolvimento de suas cidades, através do espetáculo que estas arquiteturas desenhadas pelos "arquitetos-show" podiam proporcionar, muitas edificações foram sendo erguidas. No rastro do Louvre, vieram outros museus, como o Guggenheim de Bilbao (obra cujo investimento se pagou em apenas 5 anos, tal o afluxo de visitantes) de Frank Gehry, o Museu do Holocausto em Berlim de Daniel Libeskind, e tantos outros. As edificações verticais, residenciais ou comerciais também contribuíram muito neste setor. Primeiro funcionando como uma demonstração de poderio econômico e tecnológico. Hoje, apresentando a alta criatividade dos arquitetos. Há de se considerar que a arquitetura-monumental, ou também chamada de arquitetura-show é um grande fator de desenvolvimento das cidades, e uma ótima forma de desenvolvimento tecnológico construtivo das localidades/cidades onde estão implantados.

Cristina Piazza, é aquiteta catarinense e Diretora Técnica do Architectour 2009.

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